PENSANDO SOBRE A REALIDADE: A FILOSOFIA
A boa filosofia deve existir, ainda que não haja outra razão, porque a má filosofia deve ser respondida.
- S. Lewis
Entendo a questão filosófica como uma experiência existencial centrada no cerne da mente humana, uma agitação espontânea, urgente e inescapável da vida íntima de uma pessoa.
Josef Pieper, filósofo
Por vários anos, enquanto meu irmão e eu viajávamos a pé, nosso costume era que aquele que ficava mais atrás, lia em voz alta algum livro de história, poesia ou filosofia.
John Wesley
Durante os anos de 1985-1988, passei muitas das minhas sufocantes tardes ao lado das encharcadas margens do rio Mississipi, no sul de Louisiana. Minha esposa e eu morávamos a um quilômetro e meio desse afamado curso de águas de cor lamacenta. Ao entardecer eu corria até à barragem, abrindo caminho através dos pantanosos jardins cheios de carvalhos cobertos de musgo, e orava a meu Pai em secreto enquanto admirava a beleza de sua criação. Na língua indígena “alonquin”, esse caminho era chamado “Misi-Sipi”, literalmente “água grande”.
Muitas vezes sentei-me absorto ao lado dessa gigante artéria continental, imaginando a condição pela qual o amadurecido conteúdo passava em seu caminho em direção à costa do Golfo do México. Eu costumava mapear mentalmente sua navegação mais ao norte de St. Paul, em Minnesota, onde as correntes claras convergiam, até os lamacentos, convulsivos e retumbantes rios Missouri e Ohio. Intrigava-me pensar que aquilo que eu presenciava valsando em direção ao sul era uma mistura, especialmente para este fim, de elementos absorvidos de 31 estados norte-americanos e mais 2 províncias canadenses. Ao longo de sua jornada de 3.760 quilômetros, esse rio sinuoso peneirou sedimentos dos diques glaciais de Wiscosin, das terras baixas do interior das Grandes Planícies, e mesmo do majestoso Apalache — um rio vital para dezenas de milhões dentro dos Estados Unidos.
Alguém poderia facilmente imaginar que de alguma misteriosa maneira, por causa da sua força e poder, essa corrente poderosa dependesse direta e puramente do Criador. Porém, muitas vezes Deus aproveita o que já existe a fim de “criar” o que parece novo. Com todo respeito pelo Mississipi, ele não passaria de um canteiro sinuoso de poeira não fossem as incansáveis doações do delicado sistema de drenagem de 1,9 milhão de quilômetros quadrados. O majestoso Mississipi foi formado pelo sacrifício de milhares de tributários. Semelhantemente, os canais, a metodologia e a prática da teologia cristã são, em muitos aspectos, os resultados de correntes e riachos ideológicos. O cristianismo foi modelado e direcionado ao longo dos tempos pelas correntes culturais e sedimentos filosóficos que passaram antes dele.
Por que essa aula de geografia? Simplesmente porque somos inclinados a esquecer que os movimentos, as formações e os eventos grandes, naturais e até sobrenaturais resultam daquilo que os precederam. Deus usou águas catastróficas e entulho para cortar o grandioso canyon do Colorado; planejou a vinda do Messias por meio dos genes de pelo menos 42 gerações de judeus, e faz o fogo do reavivamento se erguer por intermédio do preparo de seu povo. Esse processo pode se estender desde as promessas do profeta Joel, filho de Petuel, ao cumprimento encontrado no Pentecostes sob o profeta Pedro. Quem somos, o que pensamos e como agimos, tudo isso se baseia nas idéias daqueles que viveram antes de nós. As forças filosóficas de cada época não apenas estimularam o pensamento cristão, mas ajudaram os cristãos a tornar sua fé relevante para a sociedade na qual vivem.
Durante a era da Igreja, o relacionamento entre filosofia e cristianismo tem sido tenso, competitivo e, em alguns momentos, de completa hostilidade. Discussões sobre o papel que a filosofia cumpre no desenvolvimento da mente, a origem de sua disciplina e os valores ou perigos de pesquisar seus assuntos tem sido parte integral do fluxo e refluxo da história da Igreja.
Quanto à menção explícita da palavra filosofia na Bíblia, há somente uma, e parece advertir os cristãos sobre se deter em pensamentos filosóficos. No entanto, examinado com cuidado, o texto meramente previne os cristãos colossenses para se absterem de certo tipo específico de filosofia. Paulo admoesta de modo particular os colossenses a que evitem a espécie de filosofia “vã e enganosa” (Cl 2.8). A culpada aqui não é a filosofia em si, mais do que a fé em Tiago 2.14-26, do que os sinais e o conhecimento que são assunto de 1Coríntios 1.22; e do que a oração em Mateus 6.7. Para ser mais preciso, essas admoestações referem-se a fé morta, louvor vazio, oração repetitiva, procura de sinais, orgulho no conhecimento, falso conhecimento (1Tm 6.20), e filosofia vã e enganosa.
No Antigo Testamento, a palavra “filosofia” não aparece nenhuma vez; no entanto, essa porção da Bíblia aponta repetidamente para a sabedoria que se encontra fora do reino do povo de Deus. O Egito (Is 19.11-13), a descendência de Esaú (Jr 49.7), a cultura fenícia (Zc 9.2), e vários outros conheciam muito a respeito do mundo no qual viviam. O próprio Moisés “foi educado em toda a sabedoria dos egípcios e veio a ser poderoso em palavras e obras” (At 7.22).[1] Somos informados nas Escrituras de que Deus é o Deus do conhecimento e que os cristãos devem veementemente buscar o conhecimento para amar a Deus com todo o seu entendimento e para se mostrarem a si mesmos aprovados diante de Deus (Pv 1.7; 13.16; Mt 22.37; 2Tm 2.15). Estes são indicadores implícitos do desejo de Deus de que deveríamos buscar a sabedoria onde quer que a possamos encontrar.
A filosofia em si mesma nunca é condenada nas Escrituras. A idéia de amor pela sabedoria ou estudo dela (o termo filosofia literalmente significa “amar” [phileo] a “sabedoria” [sophia]) não somente escapa à acusação divina, mas na verdade sinaliza a verdade daquilo que Deus aprova. Basta passear pelo conteúdo de Provérbios para observar que em 23 de seus 31 capítulos, o escritor apela aos leitores para que busquem, obtenham e apreciem a sabedoria. Além disso, uma rápida pesquisa em Provérbios nos mostrará que uma boa porção de seu conteúdo não lida com o que normalmente se poderia denominar “conhecimento religioso”. Provérbios, bem como Eclesiastes, Jó e muitos outros segmentos menores das Escrituras ostentam uma evidente tendência filosófica.
O que, então, deveria o cristão fazer com a guerra de idéias que muitas vezes entulha as especulações filosóficas contra os ensinamentos simples e notáveis da Bíblia? A filosofia tem algum lugar na vida de fé ou é meramente uma intromissão pseudo-religiosa que procura enganar com meias verdades suas vítimas confiantes? Essas disciplinas são amigas ou inimigas da cristandade? São arquirrivais ou associadas afáveis pertencentes a uma mesma família da verdade?
TODA VERDADE É VERDADE DE DEUS
Quando é feita a pergunta “O que é verdade”, muitos cristãos respondem com alguma forma de clichê: “Jesus é a verdade” ou “a Bíblia é a verdade”. Sem dúvida isso é verdade; no entanto, o que esta resposta mordaz e superficial falha em informar é a questão da verdade fora da Bíblia. O simples fato é que todos acreditamos que há verdade fora das palavras das Escrituras, embora a maioria se demora em afirmar isto por medo de alguém suspeitar que é “progressista demais” ou mesmo relativista. A razão porque pensamos assim se deve ao fato de termos dedicado pouco tempo para pensarmos sobre como pensamos e por que pensamos o que pensamos. Qualquer cristão que tenha caminhado com Deus por um período de tempo maior já deve ter percebido que nem tudo na Bíblia é verdade e que existe verdade fora do campo do Antigo e do Novo Testamento.
Antes que o leitor prematuramente feche este livro, deixe-me explicar: quando satanás disse a Eva: “Certamente não morrerás” (Gn 3.4), estava mentindo, mas esta mentira é encontrada nas Escrituras. Quando Pedro, falando à serva afirmou que nem ao menos conhecia a pessoa chamada Jesus, também estava mentindo. Novamente está bem no começo do Novo Testamento, e é um profeta não deixando de falar a verdade. Assim o que acontece? Alguém poderia dizer (como já ouvi argüições): “Sim, mas Pedro ainda não tinha o Espírito Santo”. Não temos tempo agora para provar isso em sentido profundo, mas devo dizer que precisamos ser cuidadosos com essa linha de pensamento, pois facilmente podemos nos sentir sem saída, quando percebermos que Pedro também reconheceu Jesus como “o Filho de Deus vivo” (Mt 16.16) antes que tivesse o Espírito Santo.
Deste modo, sim, Pedro estava aguardando o derramamento e a vinda do Pentecostes exatamente como todos os profetas do Antigo Testamento! Apesar disso, cremos que os arquitetos do Antigo Testamento, de Moisés a Malaquias, foram guiados pelo Espírito Santo, não é mesmo? Pelo menos Pedro pensava assim (2Pe 1.21). Enfim, não importa de que lado do Pentecostes estivesse, Pedro se posicionou e ele mentiu. Assim, quer o exemplo seja a serpente no jardim do Éden falando ao primeiro Adão: “certamente não morrerás”, quer a serpente em Cesaréia de Filipe, falando ao último Adão por meio de Pedro: “de modo nenhum te acontecerá isso” (Mt 16.22), as mentiras não são verdade, mesmo quando encontradas na Bíblia. Da mesma forma, a verdade não é falsidade, mesmo que ela não seja encontrada na Bíblia. Agostinho acreditava que toda verdade é verdade de Deus, não importa onde seja encontrada. Ele afirmou: “Devemos mostrar que nossas Escrituras não estão em conflito com o que quer que possa demonstrar a natureza das coisas a partir de fontes confiáveis”.[2]
Logo, voltamos à sugestão de que todos os cristãos acreditam em verdades fora da Bíblia. Embora confiemos que 2 + 2 = 4 seja absolutamente verdade, 100% do tempo, como explicar o fato de que isso não é encontrado em lugar algum nas Sagradas Escrituras? Sabemos também que duas coisas não podem simultaneamente, da mesma forma exata, serem precisamente a mesma e ao mesmo tempo, exatamente o oposto uma da outra. Outra verdade defendida, universalmente, pelos cristãos é que, se A = B, e B = C, então, em tese, A = C. Nem todos, certamente, concordariam com o enunciado acima; no entanto, quando se trata da vida diária, parece que mesmo os relativistas conformam-se com as leis da não contradição. Por exemplo, como o apologista Ravi Zacarias afirma: embora os hindus possam alegar que uma coisa possa ser tanto verdade quanto mentira ao mesmo tempo, eles também olham para os dois lados quando atravessam a rua, porque sabem que será ou o ônibus ou eles a sobreviver a uma colisão inesperada.[3]
Se as indubitáveis máximas matemáticas, as leis resolutas da não contradição e os princípios prístinos da lógica são todos verdadeiros, ainda que não apareçam em nossa Almeida Revista e Corrigida, encadernada em couro, como, então explicamos que a verdade reside fora das Escrituras? Outra vez a resposta é que toda verdade é verdade de Deus, quer ela seja encontrada em um livro de história, em um compêndio de lógica, num tratado científico, numa avaliação psicológica, em fórmulas filosóficas, ou ela seja encontrada em obras-primas da literatura de ficção.
Permanecendo com o adágio de Agostinho, mencionado acima, Clemente de Alexandria sugere que o conhecimento é de valor especial para os cristãos e que estes devem extrair de cada ramo de estudo suas contribuições para a verdade. Wesley também apregoava que é perigoso para os cristãos defenderem a noção de que somente eles podem ensinar a verdade. Ele se convenceu de que é um grave erro pensar dessa maneira mesmo que por um momento. E estou persuadido de que devido à falta dessa visão compreensiva dos fiéis do Evangelho Pleno, eles muitas vezes adentram de forma deficiente ao estádio do pensamento, onde as batalhas de idéias se agitam e a guerra entre as várias concepções toma lugar.[4]
Quando o cristianismo é mal compreendido como um sistema estritamente religioso, quando a “espiritualidade” se reduz ao que diz respeito às questões devocionais ou quando as assim chamadas questões seculares da vida são moderadamente divorciadas das chamadas paixões sagradas, então o cristianismo perdeu sua marca. Quando nossa fé é vista como tal, uma essencial de desconectividade passa a permear cada esfera de nossa vida. Isso nos impede de considerar o mundo, tudo o que nele há, as atividades dos seres humanos e nossa mente como um sistema integrado, compreensivo e coerente de verdade. No entanto, o estudo da filosofia pode nos ajudar a ver o inspirador mosaico coerente da realidade máxima.
O QUE É FILOSOFIA?
Como pudemos depreender deste início do capítulo, filosofia é, em geral, a prática amorosa da sabedoria. Aqui, sabedoria é equivalente à realidade, e a paixão com a qual procuramos compreender esta realidade é chamada amor. Todos os que participam da filosofia estão empenhados em pensar com seriedade sobre as várias facetas da origem, natureza, propósito, lutas e relacionamento da raça humana em relação a tudo o que existe. Os filósofos examinam não apenas suas próprias vidas, mas procuram entender como toda essa realidade se encaixa. Eles procuram compreender o mundo em que vivem e desejam determinar como podem saber que o seu entendimento particular é verdadeiro. Diante disso, o estudante de filosofia examina atentamente o panorama da história a fim de aprender e compreender como outros têm se debatido com a questão da vida.[5]
Em variados momentos, todos filosofam; então em menor ou maior extensão, todos são filósofos. Além disso, todos regularmente bebem na filosofia de outros. Embora muitos cristãos quase desmaiem diante deste pensamento, o fato é que quando assistimos televisão, seja na forma de seriados cômicos, documentários ou comerciais, ouvimos filosofia. Isto é, damos ouvidos aos pensamentos dos outros em relação ao que é importante, ao que vale a pena possuir, conhecer ou lutar para conseguir. Somos reforçados, manipulados ou movidos em relação às coisas pelas quais estamos dispostos a chorar, rir e com as quais nos aborrecemos. Campanhas de interesses específicos, pontos de vista de moralidade e questões políticas são expostos através das ondas de rádio e TV para todos se entreterem. Essa exposição à filosofia casual ou às cosmovisões nos desafia e nos muda mais do que nos dispomos a admitir.
A arte ou a prática de filosofar pretende nos afastar de respostas superficiais, levando-nos a uma deliberação mais detalhada sobre por que acreditamos naquilo que declaramos acreditar. A filosofia está intimamente relacionada à lógica, à teologia e à apologética, e todas estas disciplinas preocupam-se com a clareza, consistência e coerência das idéias que professamos defender a qualquer custo.
Quando falhamos em nos comprometer com uma reflexão séria sobre os assuntos dominantes da vida, colocamo-nos a nós mesmos e à sociedade em posição precária. Isso é verdade, pois ao renunciarmos a esses reinos, concedemos às mentes menos nobres o privilégio de construírem uma cosmovisão pela qual todos teremos que pagar. C. S. Lewis declara que cada um deve participar nas correntes filosóficas de sua cultura, mesmo que seja apenas para repeli-las; e se alguém não tem uma boa filosofia, inevitavelmente cairá presa da má filosofia.
Logo, o que é filosofia? Colocado de maneira simples, é o conjunto de idéias assumidas por meio das quais uma pessoa observa a vida; ou é o estudo dessas idéias. E já que todos têm idéias, então todos nós possuímos uma filosofia de vida. E porque as nossas idéias têm um impacto direto sobre como vivemos nossa vida, nossa filosofia de vida não é somente extremamente prática, mas também muito importante. Se a filosofia de vida de alguém é boa, consistente, coerente, clara, virtuosa, testada ou pervertida, isso já é outro problema.
O CRISTIANISMO E A FILOSOFIA
No Antigo Testamento, os profetas de Deus repetidamente fizeram uso da ordem natural e moral do mundo para defender a religião de Israel. Por exemplo, ao discursar contra os falsos deuses dos pagãos, eles chamavam atenção para o fato de que algo tão grande como o mundo não poderia ter sido formado por algo tão pequeno quanto um ídolo de madeira (Is 44,45). Isso é raciocínio filosófico.
No Novo Testamento, Jesus (o Logos) empregou constantemente o poder da intensidade lógica para trazer os ouvintes ao lugar onde pudessem confrontar a santidade de Deus com o próprio estado pecaminoso deles. Jesus discutia usando analogias (Jo 7.21-23), raciocinava a partir de evidências empíricas (Jo 5), participava de debates complexos (Jo 7—8) e empregava o que poderíamos chamar de método socrático, respondendo aos seus questionadores com perguntas. Além disso, ele surpreendeu os mestres da época com o seu entendimento e maravilhou o povo comum com o uso estratégico da ordem natural e da natureza humana. Todas essas são marcas de perspicácia filosófica por excelência.
Os apóstolos também puseram em uso a argumentação filosófica e o raciocínio na exposição do evangelho a um mundo perdido. Paulo procurou aplicar seu conhecimento dos filósofos gregos de modo que os cidadãos de mente filosófica do império pudessem compreender melhor a mensagem de Cristo. É fato bem conhecido que Paulo citou o filósofo Epimênides em, pelo menos, dois momentos (At 17.28; Tt 1.12) e Aratus uma vez (At 17.28). Outros afirmam que Paulo também fez uso da teologia popular helenística (Rm 1.20).[6]
Em Atenas e Corinto, Paulo viu-se frente e frente com epicureus e estóicos, e em Colossos foi forçado a lidar com conceitos agnósticos. Tudo isso trouxe desafios singulares à verdade da revelação de Deus. Ao fazer uso do pensamentos desses vários filósofos, Paulo procurou não apenas detectar o solo comum entre cristãos e não-cristãos, mas também responder aos críticos de acordo com seus erros práticos. Paulo não poderia ter feito isso sem que conhecesse suficientemente bem seus filósofos para compreender o contexto de onde seus ouvintes vinham. Esse é um dos grandes benefícios de se estudar filosofia: saber por que outros crêem o que dizem crer, a fim de ajudá-los a discernir inconsistências em seus pensamentos.
Temos também João e o uso que ele faz da palavra grega logos. Heráclito (524-475 a.C., contemporâneo do ministério do profeta Zacarias) foi quem primeiro usou o termo para explicar a harmonia e os padrões evidentes num mundo de mudanças. Várias centenas de anos mais tarde, Filo, o filósofo judeu de Alexandria, identificou este logos com a sabedoria da literatura hebraica. João usou o mesmo termo para descrever a Palavra eterna (Lógica ou Razão), encarnada em Jesus Cristo, sustentador de todas as coisas. De acordo com a tradição, João escreveu seu evangelho quando esteve em Éfeso, curiosamente o antigo lar de Heráclito.
Do segundo século em diante, muitos dos grandes pais da Igreja foram bastante astutos ao manejarem as intrincadas nuanças dos filósofos antigos e contemporâneos de sua época. Justino Mártir (c.100-165), que nasceu perto da época da morte do apóstolo João, acreditava que a filosofia era serva do evangelho e que o cristianismo era, de fato, a maior de todas as filosofias. Clemente de Alexandria (150-215) conjeturou que “talvez a filosofia tivesse sido dada aos gregos direta e principalmente até que o Senhor chamasse os gregos”. Em outra obra, ele explicitamente afirma que a filosofia é “obra de Deus”. Muitos dos pais da Igreja concordaram com isso.[7]
No decorrer de toda a era da Igreja, muitos homens de notoriedade espiritual fizeram uso da antiga filosofia, e muitos tornaram-se conhecidos como filósofos por seus próprios méritos. Agostinho, Tomás de Aquino, Anselmo, Blaise Pascal, Gottfried Leibniz e Jonathan Edwards estão entre os muitos que tiveram profundo relacionamento com Jesus Cristo, influenciando o Reino de Deus de maneiras maravilhosas. Eles são ainda considerados por muitos como os maiores filósofos de sua era. O evangelista maior, John Wesley, deliciava-se em “mergulhar em Platão para relaxar” e escreveu tratados filosóficos, incluindo um compêndio inteiro de filosofia natural.[8]
Wesley não apenas exigia que os ministros itinerantes à sua volta estudassem filosofia com regularidade, como também via a importância de expor as mentes das crianças em idade escolar a um verdadeiro banquete de pensamentos filosóficos. Em seu Short Account of the School in Kingswood [Breve relato sobre a escola em Kingswood], ele apresenta o objetivo e o projeto da educação ali ministrada. Em meio a enorme lista de textos necessários, é possível encontrar obras de filósofos como Platão, Erasmo, César, Virgílio, Ovídio, Juvenal, Homero, Paterculus, Locke, Hume, Euclides, Newton, Livy, Suetônio, Pascal, Epictetus, Marcus Antoninus e Xenofonte. Para Wesley (considerado por alguns como “o Pai do Pentecostalismo”), conquistar o mundo para Cristo envolvia estimular, despertar e converter a mente dos homens. Para alcançar esse propósito, ele estava persuadido de que a mente deve ser batizada com as grandes idéias filosóficas da história. Seguindo essa diretiva, ele preparou um exército virtual e com esse exército reformou uma nação.[9]
Se alguém questiona a erudição filosófica dos pais da Igreja, os defensores da fé medieval ou (alguns) dos heróis do Grande Despertamento, deve simplesmente ir aos índices de suas obras e observar a lista de referências aos gigantes da filosofia. Há boas razões para que os luminares do cristianismo tenham se proposto a conhecer a mente dos filósofos. Essas mentes humildes e sedentas estavam cientes de que não tinham toda a verdade e que podiam aprender de algumas outras mentes que se inspiraram em Deus. Em claro contraste, bem poucos líderes (pensando apenas nos leigos) dentro das tradições de santidade e pentecostais-carismáticos preocuparam-se em estudar e escrever filosofia. Isso fala muito alto.
Além do mais, a filosofia pode servir para nos lembrar do patamar comum que compartilhamos com as culturas pagãs. Sempre é de especial interesse, principalmente para missionários, quando a filosofia de sua cultura alvo oferece pontes por meio das quais podem partilhar a mensagem do evangelho de maneira mais significativa. A disciplina do rigor filosófico é também de ajuda incalculável para a ciência da interpretação da Bíblia. O exercício intelectual por si só, resultado da análise de perspectivas divergentes, prova aguçar a sensibilidade de alguém às nuanças sutis de significado e insinuações culturais. Além disso, o pensamento filosófico, quando conduz a descobertas ou desenvolvimentos maiores, tais como a forma da terra, a centralidade do sol, a geometria, o cálculo ou a classificação biológica, pode beneficiar a Igreja ao revelar verdades sobre a criação de Deus.
Também é verdade que exercitar e estudar a filosofia de outras pessoas ajuda-nos a formar idéias sobre assuntos particulares para os quais a Bíblia não oferece respostas específicas. É aqui que a natureza prática das filosofias pessoais têm suas repercussões negativas. As idéias têm conseqüências (pergunte aos judeus de Auschwitz ou às massas maltratadas sob à inspiração stalinista de Marx) e as idéias que defendemos, estejam elas arraigadas em uma filosofia cultural, familiar, antiga ou comunitária, regem a nossa vida diária. Finalmente, em muitos aspectos, nossa filosofia pode até mesmo indicar como vemos as Escrituras como um todo e como interpretamos passagens específicas.
Algumas de nossas soluções para os problemas da vida são resultado de pertencermos “ao ocidente”; outras nos chegam por meio da mídia. Outras ainda derivam de nossas raízes greco-romanas, judaico-cristãs, européias, puritanas, negras, indígenas, rurais, urbanas, sulistas ou nortistas. Algumas de nossas convicções devem-se à filosofia de nossa cultura e algumas servem simplesmente para alimentar superstições. Independentemente de quais sejam as nossas raízes, as nossas filosofias tornam-se o filtro através do qual desenvolvemos e conduzimos as nuanças de nossa existência diária.
É mergulhando no profundo reservatório da filosofia de nossa vida que nos deparamos com muitas questões da vida e respondemos a elas. Mas o valor de nossa filosofia depende da sua consistência, coerência e clareza. Nosso sistema de pensamento realmente tem valor quando vivemos de fato essa filosofia, quando ela descreve bem a realidade, explicando-a razoavelmente, e especialmente quando está de acordo com os princípios escritos na revelação de Deus. Embora todos tenham alguma filosofia, nem todos têm uma boa filosofia de vida. Alguns têm uma filosofia limitada, desatualizada, intolerante ou inconsistente. Outros ainda possuem uma filosofia muito boa, mas não a vivem; outros ainda têm uma filosofia admirável e vivem-na; contudo, não sabem como explicá-la ou defendê-la. Finalmente, há aqueles que, por se dedicarem ao estudo de grandes mentes, têm uma sólida filosofia de vida, personificam-na e conseguem expressar por que crêem no que crêem. Por fim, esses se tornam os mais capacitados para ajudar outros a descobrirem onde estão errando em seus pensamentos.
ATÉ QUE PONTO NOSSAS CRENÇAS SÃO FILOSÓFICAS?
A esta altura, alguns leitores podem estar a se perguntar como suas crenças são afetadas pelas forças filosóficas. Quando dizemos que temos que considerar trechos das Escrituras sempre dentro do seu contexto, que temos que levar a cultura em consideração, ou quando dizemos que “os tempos eram diferentes”, de algum modo, estamos falando de filosofia. Além do mais, nossa visão de como as Escrituras foram inspiradas é filosófica, pois nos afastamos da Bíblia para determinar se ela é ou não verdadeira. Se percebemos variações dentro do cristianismo ao longo do tempo, se o cristianismo hoje difere de uma sociedade para outra ou se uma família cristã é diferente de outra, estejamos certos de que em algum lugar, com o passar do tempo, existem diferenças filosóficas na raiz dessas variações
Nossas concepções sobre educação dos filhos, segurança econômica, aposentadoria, aspirações vocacionais, tendências políticas e visões sobre ciência, são todas filosóficas em sua natureza. O pensamento filosófico circunda nossas perspectivas pessoais quanto às leis matrimoniais, ações judiciais, glutonaria, homens com brincos, guerra, previdência social, arte, o que constitui o juramento, o uso de imagens e os métodos de controle de natalidade. Há literalmente centenas de questões que podem nos ser apresentadas e nos ajudarão a ver que contamos com mais do que versículos bíblicos definidos para formar nossa compreensão da vida diária. Por exemplo:
Se não temos relatos de construção de prédios de igrejas no Novo Testamento, é certo construí-los?
O apóstolo Paulo e Abraham Lincoln estavam certos sobre a escravidão?
Paulo e os primeiros pentecostais estavam certos em seu ponto de vista sobre as mulheres falarem na igreja?
Com que idade uma criança adquire consciência e de onde tiramos nossas evidências?
Os Estados Unidos são uma nação abençoada ou amaldiçoada? Por quê?
Um ataque militar não provocado em terra estrangeira é aceitável?
Como medimos materialismo ou mundanismo?
Um homem pode casar com sua prima?
Dançar é errado? Que tipo de dança?
Usar drogas que alteram a mente é errado? E quando são prescritas por um médico para um paciente em estado de doença terminal?
Palavras de blasfêmia continuam sendo de blasfêmia se as lemos na Bíblia?
Nossas crianças devem ler tudo que está na Bíblia, incluindo passagens explicitamente sexuais? (por exemplo, Ez 23)
Seria errado mentir para salvar a vida de nossos filhos?
Foi errado mentir para salvar os judeus na Europa nazista?
O canibalismo é errado em quaisquer circunstâncias?
Nossa alma já existia antes de termos nascido?
Quanto tempo por dia os nossos filhos podem assistir TV?
A vontade de Deus para uma pessoa, em particular, pode ser contrariada? O que dizer da criança abortada?
Em que idade se pode casar? E ir à guerra? E dirigir carro?
Quanta educação é necessária?
Deus é a favor de enviarmos nossos filhos às escolas públicas?
O que é progresso? Sucesso?
Qual a idade da Terra?
Quanto dinheiro uma pessoa deve ganhar?
O que dizer sobre casamentos arranjados?
Operar na Bolsa de Valores constitui jogo de azar?
Os desastres naturais são provocados por Deus?
Foi errado Caim casar com suas irmãs? E Abraão casar com sua meia-irmã?
O que dizer sobre Deus formar a nação de Israel a partir da poligamia de Jacó?
Qualquer casamento civil deve ser reconhecido pela igreja?
O que constitui suicídio? É suicídio o pedido de retirada dos equipamentos de suporte à vida?
O que dizer sobre testamentos?
Deus causa o que ele permite?
Como Deus vê o pecado habitual da glutonaria na vida dos cristãos?
Lançar sortes é um meio viável de se determinar qual a vontade de Deus?
Paulo estava certo em desculpar as “ditaduras” ou os americanos estão certos em destituí-las?
De certo modo, todas as questões acima são filosóficas. Se fizermos uma tentativa de respondê-las, ofereceremos soluções que são uma mistura de teologia, cultura e filosofia, de acordo com os argumentos a serem provados. E se não fizermos uma tentativa honesta de responder, permitiremos que a filosofia de outra pessoa direcione a nossa vida. Então, até que ponto as nossas crenças são filosóficas?
OUTROS BENEFÍCIOS DA FILOSOFIA NUMA ERA CONFUSA
Vivemos na era da mais absoluta irracionalidade, em que ao invés da razão, são os sentimentos, prazer, pragmatismo e ganhos materiais que muitas vezes ditam o que apelidamos de “certo”. Os próprios cristãos caem por causa do “deus do entretenimento”, de situações étnicas, do materialismo e do relativismo pós-moderno. Um ceticismo radical permeia os grandes setores de nossa sociedade e o antiintelectualismo encontrou espaço nos recessos e fendas das salas de aula universitárias bem como nos bancos das igrejas. Além disso, uma multidão de charlatões tem se unido à crescente fileira dos que defendem o pensamento oriental (Nova Era), a fé islâmica, as seitas e a astrologia pop. E, certamente, com a nova “supervia da informação” estamos mais do que nunca vulneráveis às más filosofias.
A resposta à má filosofia é a boa filosofia e o caminho para desenvolvê-la é esfregar nossa mente contra mentes maiores. Ao considerar os sistemas filosóficos dos maiores intelectuais da história, começaremos a instigar nossa mente antes fechada, aumentando a nossa agilidade mental. Em troca, seremos mais autocríticos e reflexivos. Enquanto nosso intelecto é exercitado, trabalharemos para refinar as nossas idéias, aprendendo a expressá-las melhor, além de detectarmos algumas das noções inadequadas ou ingênuas que tenazmente retemos. Nossa habilidade para reconhecer argumentos inválidos e apresentar os válidos nos auxiliará a defender o evangelho de Jesus Cristo e a guiar os que são orientados por uma má filosofia rumo ao amor do verdadeiro Logos.
Uma reflexão saudável sobre filosofia também pode nos ajudar a entender os impulsos que estão por trás dos movimentos do cristianismo que se desviam muito para a esquerda ou muito para a direita. Ao estudante de filosofia ficará mais claro por que e como as forças do agnosticismo, misticismo e pietismo ganharam terreno no Reino. Da mesma maneira, as forças do escolasticismo, deísmo e fundamentalismo entre outros, farão mais sentido para aqueles que investigam a história das idéias. A alternativa para essa abordagem (desinteresse pela filosofia) é exatamente o que testemunhamos: uma compreensão superficial das forças que têm moldado o mundo perdido e o Reino de Deus na terra.
Como mencionado, a filosofia e a teologia se moldaram tanto uma à outra que o familiarizar-se com a filosofia pode grandemente beneficiar a inteligência teológica. Ao utilizarmos linguagens e conceitos filosóficos, podemos articular melhor as doutrinas da criação, da Trindade, da encarnação, da ressurreição, da inspiração das Escrituras e muito mais. Quando nos debatemos para colocar nossas idéias sobre Deus em palavras, isto se deve muitas vezes à nossa negligência em pensar e refletir mais sobre a questão ou à nossa falta de leitura daqueles que já pensaram e refletiram muito sobre o assunto. Ler os compêndios resultantes de uma vida inteira de pensadores é por vezes o catalisador que pode providenciar o salto intelectual necessário para os que trabalham intensamente para se expressar.
Desconsiderando as razões acima mencionadas para participar no estudo das idéias, ainda podemos encontrar a agradável aventura de explorar a maneira como a mente humana pensa. Também há o renovador e divertido fenômeno de nos depararmos com um aglomerado de pensamentos que nós mesmos já tínhamos considerado, mas que nunca tínhamos articulado por nós mesmos ou compartilhado com alguém. Quando encontramos uma “grande” mente que já vivenciou noções e sonhos semelhantes, chegamos à conclusão de que a fraternidade humana nutre-se das mesmas fontes da especulação e do encantamento. A percepção de um pouco de esplendor não deve nos convencer da nossa genialidade, mas sim nos motivar a pensar melhor.
Por fim, é fascinante sentir um pouco de Sêneca ou Cícero em Paulo, o apóstolo, e da mesma forma, peculiar e humilhante ouvir Platão descrever algo próximo do conceito cristão da Queda e da Redenção em sua República (505-18) e da Criação em Timeus (27-53). Notar repentinamente as sombras tênues do nosso Criador no “motor imóvel” de Aristóteles (Metafísica 13.6-10), sentir os sinais de Cristo no Logos de Filo e testemunhar a sagacidade da humana eloqüência humana de Sócrates através de um espírito divino (Fedro, de Platão; 240-49, 265), tudo isso é singular e emocionante!
Este processo não é somente interessante, mas também certamente benéfico. É benéfico ler o tratado de Descartes que lida com a existência de Deus e a consciência de alguém (Meditações metafísicas 1-3); as obras de David Hume sobre a historicidade do cristianismo (Essays Concerning Human Understanding [Investigação sobre o entendimento humano], 2.1-3), e as dissertações de Sören Kierkegaard chamando a atenção para a busca apaixonado do ser humano por Deus. Tudo isso serve para desafiar as nossas pressuposições, inspirar a alma e aclarar a mente.
CONCLUSÃO
A filosofia é a busca por idéias corretas e pelos ideais. E visto que as idéias intensas deixam um rastro de conseqüências em seu caminho, a filosofia afeta diretamente a vida diária. Embora as Escrituras falem genericamente sobre muitos assuntos e explicitamente sobre alguns, há uma multidão de questões para as quais as Escrituras não dão detalhes. As noções modernas de democracia, sexualidade, cidadania, diplomacia, economia, família, psicologia, política pública, indústria e tecnologia, bem como os costumes educacionais, políticos e éticos do mundo atual, são todos, de algum modo, construtos de energias teóricas e mentes pensantes.
Todos nós fomos feitos à imagem de Deus e dotados com a capacidade de pensamento inovador e reflexivo. Como criaturas pertencentes à comunidade divina, ouvimos seu chamado para amá-lo com toda o nosso entendimento. Como espíritos afins da raça humana, somos convidados a participar no contínuo simpósio do pensamento onde o constante intercâmbio de intelectos curiosos fala ao mundo e o modela. Temos a obrigação de oferecer a esse grande mar do pensamento o distinto tesouro da mente de Deus que ele depositou em cada um de nós. Ao fazermos isso, não apenas vivemos a sua imagem em nós, mas, quem sabe, até transformamos o nosso mundo!
[1]Como qualquer “comentário de contexto bíblico” indica, há numerosas reflexões de sabedoria do mundo antigo em passagens da Bíblia, enquanto o povo de Deus interagia com seus vizinhos; v., e.g.., John Walton, Victor Matthews & Mark Chavalas, The IVP Bible Background Commentary: Old Testament, Downers Grove: InterVarsity Press, 2000.
[2]Agostinho. The Beginning ofTruth. In: Nicene and Post-Nicene Fathers (Schaff, ed.), 1:21.
[3]Ravi Zacharias dá essa interessante, mas verdadeira ilustração em sua fita k-7 intitulada: “Respondendo ao Relativismo” (lado 1).
[4]Clemente de Alexandria. Ante-Nicene Fathers (Schaff, ed.), 2:498; Wesley. Christian Perfection. In: Works, (ed. Baker), 7:428.
[5]J. P. Moreland. Philosophy, in: Beck’s Opening of the American Mind, p. 49.
[6]F. F. Bruce. The Defense of the Gospel in the New Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1977, p. 44-5; Christopher Stead. Philosophy in Christian Antiquity. Gateshead: Athenaeum, 1995, p. 115.
[7]V. Edwin Hatch. The influence of Greek ideas and usages on the Christian Church. Peabody: Hendrickson, 1995; H. A. Wolfson. The Philosophy of the Church Fathers. Cambridge: Harvard Univ. Press, 1970. V. tb. “Justin Martyr” in: The Ante-Nicene Fathers, The Ages Digital Library ed. 1:287, 360, 613; “Clement of Alexandria” in: The Ante-Nicene Fathers 2: 597, 1043, Books for the Ages, Albany: AGES Software: Version 1.0, 1997.
[8]Wesley. The Works of John Wesley (Baker ed.), 14:300ss; cf. A Life of Wesley (AGES Software, 1998).
[9]Wesley. The Works of John Wesley, 13: 283-9.
Fonte: NAÑEZ, Rick. Pentecostal de coração e mente. São Paulo. Editora Vida. 2007. Capítulo 15.