O CONSOLADOR E O KARDECISMO

Aldo Menezes

Será que o Espiritismo é o Outro Consolador prometido por Jesus?

I – Introdução

“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador  para que fique convosco para sempre, o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. “(Evangelho de João, capítulo 14, versículos 16 e 17).

Desde que Jesus pronunciou estas palavras, têm surgido muitos grupos religiosos reivindicando o cumprimento desta promessa. Por exemplo: os seguidores de Satya Sai Baba (um guru indiano) crêem que o Baba é o “outro Consolador”.

Igualmente, os adeptos da Fé Bahá’i crêem que a promessa de Jesus cumpriu-se em Mirzá’ Hunsayn’ Ali (o Bahá’u’lláh). Não são poucos os candidatos ao “outro Consolador”. O mais destacado de todos é o Espiritismo, codificado por Allan Kardec.

Na obra O Evangelho Segundo o Espiritismo,1 lemos: “Jesus promete outro consolador: o Espírito de Verdade, que o mundo ainda não conhece, por não estar maduro para o compreender Consolador que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para relembrar o que o Cristo há dito. (… ) Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido (… ).”

Diante de tal declaração, torna-se evidente que o Espiritismo procura basear-se na Bíblia – particularmente nos Evangelhos -para confirmar suas doutrinas. Sabemos que não pode haver duas verdades, quando uma não concorda com a outra.

Assim, precisamos examinar a Bíblia e o seu contexto para determinar a verdadeira identidade do “outro Consolador”, pois se o Espiritismo estiver certo em sua reivindicação, então os cristãos estão enganados quando dizem que o “outro Consolador” é a terceira pessoa da Santíssima Trindade, o Espírito Santo, que se manifestou no Pentecostes, por volta do ano 30 d.C., em Jerusalém.

Contudo, se os cristãos estiverem certos, o Espiritismo está errado ao dizer que a promessa do “outro Consolador” se cumpriu com o lançamento d’ O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857, na França, através do missionário Allan Kardec, tal como se expressa a revista espírita Reformador.2 Também, cairá por terra a pretensão de ser o Espiritismo o “Cristianismo redivivo”, ou restaurado, uma vez que este teria sido corrompido e distorcido através dos séculos.3

Uma breve observação: Não tencionamos ofender nenhum adepto do Espiritismo (dito kardecista). Cremos na sinceridade de muitos deles; porém, cremos que sua visão quanto ao “outro Consolador” é contrária às Escrituras Sagradas e, trazer isso à atenção deles, é uma forma de mostrar amor ao próximo.

II – O Espiritismo não é o outro Consolador

Apresentamos três razões para provar que o “outro Consolador” não é o Espiritismo propagado pelo Kardecismo, a saber:

Primeira: o Espírito Santo é uma pessoa (por pessoa queremos dizer um ser com atributos e características pessoais). Ele não é uma “falange de Espíritos”. O Espírito Santo é Deus, o Deus Verdadeiro.

A Bíblia mostra isso claramente. Diante da desonestidade de Ananias, o apóstolo Pedro indaga: “Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço da herança? (…) Não mentiste aos homens, mas a Deus.” (Atos dos Apóstolos 5: 3, 4).

Como parte integrante da Trindade, Ele possui todos os atributos próprios da Divindade: é onipotente (Jó 26:13; 33:4; Romanos 15:13, 19); é onisciente (I Coríntios 2: 10, 11; Ezequiel 11:5); é onipresente (Salmo 139:7- 10; João 14:17); e além de tudo isso, Ele existe desde a eternidade (Hebreus 9:14; Salmo 90:2).

Segunda: A promessa do “outro Consolador” foi cumprida no primeiro século, em Jerusalém, apenas alguns dias após a Ascensão de Jesus (e não no século 19, na França). Como disse Jesus: “Convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós.” (Evangelho de João 16:7).

Que o lugar do cumprimento da promessa não seria a França, nos foi assegurado pelo discípulo Lucas: “E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes” (Atos dos Apóstolos 1:4, 8).

Apontando para o cumprimento da promessa, relata-nos a Bíblia: “E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; e todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. E em Jerusalém estavam habitantes judeus, varões religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu”.

A estas pessoas, o apóstolo Pedro disse que o que estava acontecendo era o cumprimento das palavras de Jesus: “Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas.

De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis. Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar ” (Atos dos Apóstolos 2:1, 4,5, 33).

Objeção: No livro A Gênese, Allan Kardec tenta desacreditar o cumprimento da promessa no primeiro século, dizendo que o Espírito Santo “nada lhes ensinou a mais do que Jesus havia ensinado”, sendo assim, “não realizou o que Jesus anunciara do outro Consolador”.4

Comentando: O fato de Jesus ter dito que o “outro Consolador” ensinaria “todas as coisas” e que faria “lembrar-se de tudo” quanto Ele disse, isto não quer dizer que tudo ocorreria num piscar de olhos, instantaneamente. Inicialmente, as palavras de Jesus eram transmitidas oralmente.

E aos poucos, sob a orientação do Espírito Santo, tais palavras foram relembradas e assentadas por escrito, surgindo assim os Evangelhos e o restante do Novo Testamento.

Muitas foram as verdades reveladas pelo “outro Consolador”. Dentre tantas podemos destacar as seguintes: Por muitos séculos, Os judeus mantiveram uma atitude inamistosa para com os gentios (ou: não judeus), achando que estes eram indignos de serem chamados povo de Deus.

No inicio da formação da Igreja Cristã, a maioria provinha do judaísmo, trazendo consigo tal concerto. Contudo, a começar pelo apóstolo Pedro, o “outro Consolador” demonstrou que “Deus não faz acepção de pessoas, mas, em cada nação, o homem que o teme e que faz a justiça lhe é aceitável”.

Outro fator importante relaciona-se com a circuncisão.

Deus havia firmado uma aliança com Abraão e, tanto ele como os seus descendentes masculinos deveriam ser circuncidados. Em resultado disso, os israelitas desprezavam os gentios, chamando-os de “incircuncisos” (um termo pejorativo).

Isso influenciou muitos judeus convertidos ao Cristianismo no sentido de exigir tal prática dos gentios, querendo, inclusive, que estes guardassem a Lei de Moisés com todos os seus estatutos a fim de serem salvos.

Porém, o “outro Consolador”, mediante os apóstolos, orientou a questão, deixando claro que os cristãos “incircuncisos” não precisariam submeter-se a tal prática nem guardar todas as observâncias da Lei de Moisés. Antes, a salvação, tanto de judeus quanto de gentios, viria pela fé em Jesus Cristo.

E, como disse o “outro Consolador” por meio do apóstolo Paulo: “Porque não é judeu aquele que o é por fora, nem é circuncisão aquela que o é por fora, na carne. Mas judeu é aquele que o é no intimo, e a sua circuncisão é a do coração” (Atos dos Apóstolos, capítulos 10 a 15 e Romanos 2:28, 29).

Terceira: Em suas publicações, Allan Kardec contradiz as doutrinas transmitidas pelo “outro Consolador”, o Espírito Santo, a saber:

Os milagres registrados pela Bíblia (Kardec afirma: são fenômenos psíquicos), a inspiração divina da Bíblia (Kardec afirma: está repleta de erros e lendas).

-A Trindade (Kardec afirma: não há pluralidade na Divindade).

-A existência de anjos, diabo e demônios (Kardec afirma: seriam Espíritos desencarnados – os primeiros são bons espíritos e os últimos espíritos inferiores).

-A divindade de Jesus (Kardec afirma: é um médium de Deus, uma criatura, não o próprio Deus).

-A personalidade do Espírito Santo (Kardec afirma: é uma “falange de espírito”).

-A unicidade da vida terrestre (Kardec afirma: existe pluralidade de mundos habitados).

-A existência do céu e do inferno (Kardec afirma: não há castigo eterno, e a contemplação eterna de Deus é vista como inútil e estática).

-A ressurreição corporal tanto de Jesus como de todos (Kardec afirma: o Espírito não retornará ao mesmo corpo, mas poderá reencarnar-se em muitos corpos).

-A obra expiatória de Cristo na cruz do Calvário (Kardec afirma: o homem deverá através de sucessivas reencarnações aperfeiçoar a si mesmo).

-A salvação pela graça de Deus (Kardec afirma: o homem será salvo pelas suas boas obras).

Comentando:

Não há espaço suficiente neste artigo para analisarmos todos estes aspectos, mas a maior parte das negações das doutrinas bíblicas dizem respeito a Jesus – sua pessoa e sua obra.

Esperamos, sinceramente, que o “outro Consolador” convença os kardecistas de que o testemunho do apóstolo João é verdadeiro, quando disse: “No principio era o Verbo, e o Verbo estava coma Deus e o Verbo era Deus” (Evangelho de João 1:1).

“Este é o Verdadeiro Deus e a vida eterna” (Primeira Epístola de João 5 :20). “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”  (Evangelho de João 1:18).

E que este mesmo Deus, vendo o homem no lamaçal do pecado, condenado à perdição eterna, o amou de tal maneira, a ponto dele, na pessoa de Jesus, vir à terra e expiar os nossos pecados, uma vez que isso seria impossível ao próprio homem.

Certa vez, os discípulos perguntaram a Jesus: “Quem poderá pois salvar-se?” Jesus respondeu: “Para os homens isso é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis” (Evangelho de Marcos 10: 26, 27).

É por isso que Jesus é chamado de Salvador, pois o homem não pode – degenerado pelo pecado – assumir esse papel. É nisso que consiste a graça soberana de Deus. Deus salva o homem, mesmo sem ele merecer.

Disse o “outro Consolador” por meio do apóstolo Paulo: “Pela graça (bondade imerecida) sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie”. (Epístola aos Efésios 2:8 e 9).

Nada de reencarnação. Nada de vidas sucessivas para expiação. O Deus das consolações apresenta algo melhor: Jesus (que morreu em nosso lugar, dando-nos uma viva esperança – a de vivermos eternamente com Deus no céu, sem pecado, nem dor, nem ódio, nem fome, nem guerra, sem choro, sem medo de ter de depender de si mesmo para alcançar um lugar no céu).

Em amor, mas com firmeza, discordamos da revista Reformador5 que declarou: “O seu lema (isto é, do Espiritismo), bem diferente do lema egoístico de outras correntes religiosas, é de uma grandeza incontestável: Fora da Caridade não há salvação” (grifo nisso). Bradamos, contudo, que fora de Jesus é que não há salvação!

Kardec ainda declarou: “Vós que combateis o Espiritismo, se quereis que renunciemos a ele para seguir-vos, dai, pois, mais e melhor do que ele; curai, com maior segurança, as feridas da alma. Dai mais consolações, mais satisfações ao coração, esperanças mais legitimas, certezas maiores (…)”6 (grifo nisso).

Cremos que não é conveniente nem prudente seguir homem ou religião alguma – todos são falhos. Siga a Jesus. Pois somente Ele pode satisfazer plenamente as necessidades da alma humana – cura, segurança, consolo, esperança, certeza, e multo mais!

Veja, foi Ele quem disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas” (Mateus 11:28, 29).

Confie nele. Reconheça-o como Senhor e Salvador de sua vida. Escreva-nos, pois estamos interessados no destino e segurança de sua alma.

Notas

1 O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo VI, n° 4, Allan Kardec, 106a edição, FEB (Federação Espírita Brasileira).

2 Reformador, abril de 1995, p. 6, FEB.

3 ldem, dezembro de 1994, p. 6, FEB.

4 A Gênese, Allan Kardec, 2a edição, outubro/1992, IDF (Instituto de Difusão Espírita)

5 Reformador, setembro de 1994, p. 35, FEB.

6 A Gênese, Allan Kardec, 2a edição, outubro/1992, IDF (capítulo I, n° 44).

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3 Comentários

  1. Fui kardecista por aproximadamente 10 anos.
    Fiz cursos no centro espirita que frequentava, tais como “aprendizes do evangelho” e “desenvolvimento mediúnico”.
    O que posso afirmar sobre esse artigo é que tudo o que foi comentado sobre o kardecismo está em completa fidelidade ao que o mesmo ensina.
    Pela graça e misericórdia de nosso Senhor (e não pelas minhas obras de caridade) pude me converter para o verdadeiro Cristianismo a cinco anos. Hoje sou diácono onde congrego e tenho aprendido a cada dia a importância de se conhecer realmente a verdade que é a PALAVRA DE DEUS.
    Antes eu estudava o evangelho segundo o espiritismo … hoje eu deixei essa pratica falsa para estudar a obra original.
    Muito obrigado pelo artigo… Foi de grande valia para minha vida.
    E que o “outro consolador” possa nos abençoar a cada dia.
    Graça e paz.

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