por: Dr. Paulo Romeiro
Introdução
O tema tratado aqui não se encontra entre as doutrinas fundamentais da fé cristã tais como a Trindade, a divindade de Cristo, a morte vicária de Cristo no Calvário, a ressurreição física de Jesus entre os mortos e a autoridade da Bíblia Sagrada, nossa única regra de fé e prática. Mesmo assim, o assunto é importante para a carreira cristã.
I – Os oficiais da Igreja
Um oficial da igreja é alguém publicamente reconhecido como detentor do direito e da responsabilidade de desempenhar certas funções para o benefício de toda a igreja. Assim, presbíteros (bispos, anciãos), pastores e diáconos são oficiais da igreja. São pessoas que tem o reconhecimento público para desenvolver suas funções.
Em contraste com isso, há muitas pessoas que exercem dons na igreja, mas não se diz que elas têm um ofício. Ninguém precisa de reconhecimento eclesiástico para exercer os dons de curar, orar em línguas, etc.
II – Apóstolos
Os apóstolos do Novo Testamento tinham autoridade para falar e escrever palavras que eram “palavras de Deus”. Não crer neles e desobedecer a eles era o mesmo que não crer em Deus e desobedecer a Deus. Os apóstolos tinham autoridade para escrever palavras que se tornaram palavras da Bíblia. Só isso já demonstra que havia algo de singular no ofício de apóstolo, pois ninguém pode acrescentar algo às Escrituras hoje.
1. O Significado da Palavra “Apóstolo”
Existem dois sentidos básicos para o termo “apóstolo”. De um modo mais geral, o termo se refere a qualquer pessoa que seja um enviado ou emissário de Deus através da Igreja para uma obra especial, seja de liderança ou não (e.g., Fl. 2.25). Esse significado provém da correlação entre o substantivo “apóstolo” e o verbo em grego que significa “enviar”. Nesse sentido mais geral, não há dificuldade em se aceitar que qualquer pessoa pode ser um apóstolo de Deus. Qualquer pessoa pode ser enviada, por exemplo, por uma igreja para o trabalho missionário, e, nesse sentido amplo, ela é um apóstolo de Deus.
No Novo Testamento, porém, o sentido mais comum da palavra é o sentido técnico e restrito, se referindo a um grupo seleto dos apóstolos de Cristo. A palavra traduzida “apóstolo” (e suas derivações) é encontrada 80 vezes no texto grego do Novo Testamento. Dessas, ela tem esse sentido restrito nada menos do que 73 vezes. O sentido mais amplo de “enviado” ocorre somente 5 vezes (Jo. 13.16; 2 Co. 8.23; Fl. 2.25; At. 14.4 e 14 são duas referências ambíguas); ela se refere uma vez a Jesus Cristo (Hb. 3.1); e, finalmente, há 3 ocorrências que apresentam dificuldades exegéticas, podendo ter tanto o sentido mais amplo como o mais técnico: Rm. 16.7; At. 14.4; 14.
Não existe controvérsia quanto ao sentido mais amplo da palavra (podendo em tese ser aplicada a qualquer pessoa que seja enviada para uma missão, seja um oficial da Igreja ou não). O foco aqui é no sentido mais técnico da palavra, ou seja, no ofício do apostolado, que alguns alegam ter nos dias de hoje.
2. As qualificações de um apóstolo
Quais eram os requisitos para alguém ser apóstolo? As duas qualificações de um apóstolo eram:
- a) Ser testemunha ocular da sua ressurreição de Cristo.
- b) Ter sido, especificamente comissionado por Cristo como seu apóstolo. Atos 1.22.
Paulo argumenta que ele cumpriu esse requisito. Veja Romanos 1.1 e 1Coríntios 15.7-9.
Uma designação especifica dada por Cristo. O termo apóstolo não é comum nos evangelhos, mas aparece em Mateus 10.2 e Lucas 6.13.
3. Quem foram os apóstolos?
O grupo inicial era formado de doze – os onze originais e Matias que substituiu Judas Iscariotes (Atos 1.26).
Mas, o número e os nomes não ficaram restritos aos doze. Paulo claramente alega ser também apóstolo. Atos 14.14 chama Barnabé e Paulo de apóstolos. Assim, são quatorze os apóstolos. Tiago, irmão do Senhor, parece ser chamado apóstolo em Gálatas 1.19. Ainda, em Gálatas 2.9, Tiago é considerado, com Pedro e João, coluna da igreja de Jerusalém. Em Atos 15.13-21, Tiago exerceu importante papel no Concílio de Jerusalém. Tiago viu o Senhor ressurreto (1Coríntios 15.7-9). Assim, os apóstolos já são quinze: os doze, mais Barnabé, Paulo e Tiago.
Segundo Wayne Grudem, não há dados suficientes para afirmar, com base em Romanos 16.7, que Andrônico e Junias foram apóstolos. Junias pode ser nome de homem e Junia, de mulher. “Apóstolos” aqui podem significar o ofício de apóstolo ou simplesmente “mensageiros”como em João 13.16e Filipenses 2.25. Outros nomes têm sido sugeridos como apóstolos: Silas (Silvano) e, algumas vezes, Timóteo. Pode ser que daquele grupo de mais de quinhentos irmãos que viram o Senhor depois da sua ressurreição, alguns tenham sido escolhido apóstolos (1Coríntios 15.6). Entretanto, não há certeza sobre isso. Pode ter havido quinze, talvez dezesseis, ou até outros que não foram mencionados no Novo Testamento. Tudo indica que ninguém foi nomeado apóstolo depois de Paulo. Ele mesmo afirma: “apareceu pro último a mim” (Grudem, 2010, p. 759-764).
4. O papel dos apóstolos
a) Edificar os santos para a obra do ministério: Efésios 4.11, 12.
b) A Igreja está estabelecida sobre o fundamento dos apóstolos e profetas (Efésios 2.20). Isso é tão importante que os seus nomes estão escritos nos fundamentos da cidade celestial (Apocalipse 21.14). Ninguém coloca um fundamento no segundo ou terceiro andar de um prédio.
c) Eles falaram a Palavra de Deus. Veja Efésios 3.5. Por causa disso, os apóstolos consideraram seus escritos explicitamente como sendo do mesmo nível de inspiração e autoridade do Antigo Testamento. Eles tinham consciência de que seus escritos também eram as Escrituras inspiradas de Deus. Eis alguns exemplos:
para que vos recordeis das palavras que, anteriormente, foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor e Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos, (2 Pedro 3.2)
Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo. (1 Coríntios 14.37)
Outra razão ainda temos nós para, incessantemente, dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes. (1 Tessalonicenses 2.13)
ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles. (2 Pedro 3.16)
Note que a palavra traduzida “Escrituras” em 2Pedro 3.16 ocorre 51 vezes no texto grego do Novo Testamento, e ela se refere ao Antigo Testamento (ou seja, não a quaisquer escritos, mas à Palavra de Deus) em todas as ocorrências. Deste modo, Pedro explicitamente coloca as epístolas de Paulo no mesmo nível de autoridade e inspiração do Antigo Testamento.
Os apóstolos, em virtude de seu ofício apostólico, tinham a autoridade para receber a revelação direta das Palavras de Deus e escrevê-las para o uso da Igreja. Isso, na verdade, foi historicamente o primeiro critério para que um documento fosse considerado, na Igreja primitiva, como sendo parte do Novo Testamento.
5. Como viveram os apóstolos?
a) Uma vida simples: Atos 3.6.
b) Uma vida de renúncia: “Nós deixamos tudo e te seguimos” (Mateus 19.27).
Tome: “Vamos nós também para morrer com ele” (João 11.16).
c) Eram, doutrinariamente, equilibrados e confiáveis: “Perseveravam na doutrina dos apóstolos” (Atos 2.42).
d) Foram chamados para sofrer. Em Atos 1.8 o termo grego “testemunhas” significa “mártires”. Veja ainda Atos 9.16.
e) Serviam de modelo de vida cristã e deveriam ser imitados. Veja 1Coríntios 11.1 e Hebreus 13.7.
6. Como morreram os apóstolos?
As informações abaixo não são precisas e tem muito mais a ver com a tradição do catolicismo romano. Não representam, portanto, verdades bíblicas. Entretanto, elas dão uma idéia da vida de renúncia dos apóstolos do Senhor.
André: Foi crucificado em Ática, na Ásia Menor, numa cruz em forma de “X” que passou a ser chamada “Cruz de Santo André”. Até exalar o último suspiro, continuou admoestando seus algozes.
Bartolomeu: Pregou na Arábia, estendendo sua pregação até a Índia. Alguns afirmam que ele foi amarrado num saco e lançado ao mar, enquanto outros asseguram que ele foi esfolado vivo.
Felipe: Alguns afirmam que terrivelmente apedrejado e outros afirmam que foi enforcado num pilar do templo, em Hierápolis.
João: Irmão de Tiago, morreu aos 100 anos de idade, sendo o único dos apóstolos que teve morte natural. Segundo a tradição, ele foi lançado pelos inimigos num tacho de azeite fervendo, de onde saiu ileso.
Lucas: Foi enforcado numa oliveira na Grécia.
Marcos: Foi arrastado pelas ruas de Alexandria, no Egito, até expirar.
Mateus: Foi ferido por uma estocada de lança ou espada nas costelas, na Etiópia.
Paulo: Apedrejado e decapitado na via Óstia, em Roma, por ordem de Nero.
Pedro: Morreu crucificado no ano 67 d.C., com a idade de 75 anos. A tradição conta que ele pediu que o crucificassem de cabeça para baixo, porque se considerava indigno de morrer como seu mestre, João 21.18,19.
Tiago, o grande: Filho de Zebedeu, foi o primeiro dos apóstolos a morrer por sua fé. Foi decapitado a espada por ordem do rei Herodes Agripa I, por volta do ano 44 de nossa era.
Tiago, o menor: Filho de Alfeu, foi jogado de um pináculo, ao se levantar, alguns afirmam que recebeu uma martelada no crânio, outros dizem que foi apedrejado até morrer.
Tomé: Transpassado por uma flechada no peito, por um sacerdote pagão em Malipur, na Índia.
Judas Tadeu: Irmão de Tiago, morreu cravado de flechas.
Matias: Foi primeiro apedrejado e a seguir decapitado.
Barnabé: Também foi apedrejado. Conta-se que os judeus de Salamina zombavam dele enquanto sucumbia.
Considerações finais
Pode-se usar o termo apóstolo como adjetivo, mas não se deve usá-lo como substantivo.
Infelizmente, muita coisa que se esconde hoje por trás do título de apóstolo chama-se megalomania. Título não é importante. Ministério e servir sim. Muitas vezes, títulos revelam as atitudes carnais das pessoas.
Nenhum vulto da história da igreja admitiu ser chamado apóstolo.
Assim como no Antigo Testamento existiram falsos profetas (Deuteronômio 13.1-3), também existiram falso apóstolos no Novo Testamento (Apocalipse 2.2).
É importante salientar que o ministério dos apóstolos continua na Igreja hoje – não em pessoas que se denominam apóstolos, mas no Novo Testamento. Cada vez que a Palavra de Deus no Novo Testamento é lida e proclamada, o ministério apostólico cumpre o seu papel. Os apóstolos do primeiro século vivem hoje na Igreja através da Palavra nos dada por Deus por intermédio deles.
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Parabéns pelo texto explicativo!
Olá Emygdio, agradecemos o carinho que tem pelo nosso ministério. Deus o abençoe.
Breve, muito breve, teremos um papa.
É sempre um prazer ler e aprender com o Pastor Paulo Romeiro. Deus abençoe ricamente sua vida e de sua família e seu ministério.
Olá Elisete, agradecemos o carinho que tem para com nosso projeto.